segunda-feira, 15 de agosto de 2011

QUEM O INIMIGO POUPA ÀS MÃOS LHE MORRE


O último passear pelo “Verão Quente de 1975”, ficou no tempo em que Mário Soares entrou deliberadamente no ataque ao IV Governo Provisório e ao MFA.

O “Expresso” de 26 de Julho de 1975 publicava uma entrevista com Mário Soares e colocava em título:

“E Agora, Mário Soares?”:

“Não eu não centralizo de maneira nenhuma a questão na pessoa do Primeiro-Ministro. Fez bem em pôr esta questão que me permite esclarecer o que penso: Para mim, o essencial não são as pessoas, os ministros, ou mesmo o Primeiro-Ministro. O essencial é o projecto socialista comum. Isso implica da parte do PCP, uma escolha e uma auto-crítica, não só em palavras como em factos: convencer-nos de que está disposto a renunciar ao seu assalto ao poder por processos anti-democráticos.”

Do Editorial do “Avante”:

“A acusação dirigida contra o Partido Comunista Português de que visa liquidar as liberdades é uma mentira. Os comunistas lutam hoje – como sempre lutaram – para defenderem as liberdades que estão de facto a ser atacadas pela reacção fascista. As únicas forças políticas que vêem hoje a sua liberdade coartada são exactamente as forças democráticas, que vêem os seus centros de trabalho assaltados, os seus militantes perseguidos, os seus materiais de informação e propaganda queimados e destruídos pelos provocadores fascistas”.

Em Évora, uma bomba foi arremessada para o interior de uma casa precisamente ao ladao daquela em que residia Dinis Miranda, membro do Comité Central do PCP.

Também em Évora, numa parede da Rua da Azaruja, apareceu a inscrição:

“Abriu a caça aos comunistas”.

No decurso de uma reunião, no “Mercado do Povo”, com oficiais, sargentos e praças, Otelo Saraiva de Carvalho profere aos microfones da Rádio Renascença a frase:

“Oxalá que realmente não tenhamos de um dia encher a arena do Campo Pequeno com muitos contra-revolucionários., antes que os contra-revolucionários nos metam a nós no Campo Pequeno”

José Saramago no seu “Apontamento” no “Diário de Notícias” de 1 de Agosto de 1975:

“Aqueles a quem interessava fazer crer que o fascismo morrera em Portugal na madrugada de 25 de Abril, que o capitalismo monopolista e latifundiário emigrara sem rancor, que a reacção era história-da-carochinha apenas útil para levantar barragens e acusações – esses mesmos que tudo isso procuravam fazer acreditar para melhor prepararem os seus planos de acção, deixaram-se enfim de máscaras e começaram a guerra. (…) esta guerra que vemos declarada é entre o fascismo e o socialismo, entre o passado e o futuro. (…) O que está em curso é, nem mais nem menos, uma grande manobra nacional de traição, ligada a uma grande manobra internacional de corrupção e intriga.(…) Quem o inimigo poupa às mãos lhe morre. Poupemos a reacção, poupemos o fascismo, eles nos matarão.”

Legenda: Título do “Diário Popular” de 30 de Julho de 1975.

1 comentário:

Jack Kerouac disse...

Digamos que Saramago foi premonitório, e a verdade sobre o Verão quente, e aquilo para onde Mário Soares nos empurrou, virá ao de cima. Por muito que os seus propagandistas de serviço o queiram branquear.