sexta-feira, 12 de agosto de 2011

IDÍLIO EM BICICLETA




O nevoeiro passou a neblina e, por vezes, quase chuva. A vegetação indiciava isso mesmo: típica vegetação tropical húmida… O Nino disse que desistia, que voltava à estrada de asfalto e regressava a La Paz, pois já não sentia as mãos e não aguentava aquele piso. Alem do mais não podia apreciar a paisagem, pois a visibilidade era reduzidíssima. Daí a pouco deparámo-nos com uma enorme caravana de Land-Rovers, parados, com vários tripulantes armadilhados de máquinas fotográficas e câmaras de filmar a darem ao gatilho – era uma expedição alemã, em tour pela Bolívia.

Ao fim de 70 kms de pura descida, frio, nevoeiro, neblina e chuva, praticamente não sentia o corpo…

Talvez o nevoeiro tenha sido um aliado, por toldar a visibilidade e afastar o receio do precipício, que apenas se adivinhava à esquerda da estrada. Talvez a preocupação com a bicicleta me tenha impedido de arriscar uma descida mais veloz, no encalço do Erick, pois o Calvin seguia na minha peugada – o Nino desistiu e regressou à estrada de asfalto, buscando aí um transporte para regressar a la Paz. Talvez tenha deixado também de sentir as mãos, com o frio a trespassar as luvas encharcadas. Mas ao fim de exactamente setenta quilómetros, de quase permanente descida, senti mais alívio que emoção. Afinal deve ter faltado algo no programa, pois não senti a morte a rondar nem sequer o perigo à espreita, apesar de saber que não é impunemente que se chama carretera de la muerte… seguramente ficou envolto no nevoeiro, no frio, na chuva. Ou na racionalidade dos 44…

Texto e imagens de Idílio Freire

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