“Os duzentos quilómetros que separam Uyuni de Tupiza, não desiludem nem surpreendem. São tão remotos quanto pode ser um deserto contínuo de areia, de pedra, de desolação, de secura, de abandono. A solidão é extrema e constante; a vastidão do espaço é esmagadora e, por vezes, assustadora; raramente passa um carro; raramente se vê uma habitação ou uma alma; não existe uma única árvore, ou arbusto; e os únicos seres vivos visíveis são escassas llamas, um ou outro par de vicuñas, e alguns burros, que aparentam espanto à minha passagem.
A estrada é praticamente plana e apenas alguns troços de areia mais solta me dificultam a marcha. Preciso chegar a Atocha, vila mineira no coração do vazio, onde espero encontrar alojamento e comida, mas antes o piso torna-se mais difícil e as energias do inesperado almoço, em Rio Saladao (assim o miúdo disse chamar-se a minúscula aldeia que tinha um comedoro), já definharam na dureza e distância do percurso.
Foi com alegria revitalizadora que vislumbrei uma raríssima placa de sinalização indicando 7 kms para Atocha!! E no fim da descida, já no lusco-fusco do longo dia, surgiu a desejada povoação, enfiada no buraco das montanhas e escalando um pouco a encosta lunar, numa visão monocromática, minimalista e baça, de vila mineira.
A jornada até Tupiza deveria ser bastante longa, demasiado longa, talvez, apesar de prometer uma “recta final” descendente. De qualquer modo deixei Atocha com a primeira luz da manhã, na expectativa, contida, de poder chegar a Tupiza ou, no mínimo, à vizinha Salo.”
Texto e imagem de Idílio Freire
Sem comentários:
Enviar um comentário