“Cerrilhos surge frente a um morro esbranquiçado. O pequeno aglomerado de casas, de adobe vermelho e cobertura de colmo, funde-se no solo arenoso, também ele avermelhado. Há uma tienda onde comprar bebida, diz-me um ancião especado na praça da aldeia. Afinal a tienda vende bolachas e refrescos mas não água mineral – na aldeia ninguém tem água mineral, e esta é a única “tienda”. Começo por comprar vários pacotes de bolachas e uma garrafa de dois litros de sumo com um colorido “apelativo”.
Sento-me na prancha de madeira, frente ao muro ensolarado, e começo a devorar bolachas e sumo, no intervalo do interrogatório que os dois jovens irmãos me vão fazendo. Mas eu estou preocupado com a água… como fazer sem água? É verdade que ainda tenho um litro, mas não posso arriscar continuar sem mais alguma. Pergunto-lhes se não bebem água e dizem-me que bebem refresco. Insisto se nunca bebem água e lá dizem que sim, mas fervida. Pego na deixa e digo-lhes que era isso que eu queria, água fervida. Então o mais velho dos dois irmãos ausenta-se dizendo que vai ferver água para mim. Ao fim de uma longa espera, surge com uma enorme chaleira cheia de água quente – que espero tenha fervido uns minutos… Claro que está demasiado quente para verter nas garrafas de água e tenho de esperar mais um pouco, para que arrefeça.”
Texto e imagem de Idílio Freire
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