sexta-feira, 12 de agosto de 2011

JOSÉ MANUEL OSÓRIO (1947-2011)


“O fadista e estudioso de fado José Manuel Osório, 64 anos, morreu esta quinta-feira em Lisboa. Era considerado o mais antigo caso de um doente com sida em Portugal.

José Manuel Osório, distinguido este ano com o Prémio Amália Rodrigues Ensaio/Divulgação, tinha-se destacado nos últimos anos como investigador do fado, tendo coordenado as colecções discográficas “Fados da Alvorada” e “Fados do Fado” na etiqueta da Movieplay Portuguesa.

Osório receberia em Novembro o Prémio Amália Ensaio/Divulgação que seria a sua consagração como investigador na área do fado, em que se tinha destacado nas últimas décadas, disse o musicólogo Rui Vieira Nery.

O músico trabalhava recentemente numa pesquisa sobre a imprensa fadista e deixa pronto para publicar um texto de introdução à reedição do livro “O Fado e os seus censores”, de Avelino de Sousa.

O interesse pelo fado começou quando se matriculou na Faculdade de Direito. Frequentava as casas de fado da linha de Cascais que, segundo afirmou, eram “espaços de alguma revolta em relação às casas de fado que proliferavam nos bairros históricos de Lisboa, e que transformavam o prazer de cantar numa obrigação”.

Nas casas de fado de Cascais como “Estribo” ou “Cartola”, conheceu fadistas e poetas, nomeadamente Vasco de Lima Couto, que lhe ofereceu um poema para cantar, e José Carlos Ary dos Santos, que lhe escreveu um poema, também para ser cantado, o decassílabo “Desespero”, a partir de um soneto incluído no livro “A Liturgia do Sangue”.

Osório fundou o Grupo Independente de Teatro da Faculdade de Direito, que dirigiu e para o qual encenou “O Homúnculo”, de Natália Correia, o primeiro texto desta autora a ser representado em público.

O investigador tinha-se anteriormente inscrito no curso de teatro do Conservatório e trabalhara durante seis anos no Teatro Estúdio de Lisboa, dirigido por Luzia Maria Martins.

José Manuel Osório gravou o primeiro disco em 1968, com poemas de Ary dos Santos, Lima Couto, Manuel Alegre, Mário de Sá Carneiro, António Botto, João Fezas Vital, Lídia Neto Jorge, António Aleixo e Maria Helena Reis. No ano seguinte, gravou o segundo disco e recebeu o Prémio da Imprensa para o Melhor Disco do Ano.

Em 1970 a Casa da Imprensa distinguiu-o com o Prémio para o Melhor Fadista, mas foi impedido de cantar no palco do Coliseu, pela polícia política de então, a PIDE-DGS.

À agência Lusa Rui Vieira Nery afirmou que “José Manuel Osório foi dos primeiros da sua geração a fazer a ponte entre o fado e o sector intelectual da oposição democrática”.

Partiu para Paris onde trabalhou num restaurante onde se cantava fado e conheceu José Mário Branco, Sérgio Godinho e Luís Cília, entre muitas outras personalidades.

Na década de 1970, dinamizou o teatro amador, levando à cena dezenas de espectáculos que se apresentavam essencialmente nas colectividades de Lisboa. Conquistou o primeiro Prémio do Festival de Teatro Amador com o Grupo Oficina de Teatro de Amadores em Alfama, com o texto “Soldados” de Carlos Reyes.

Editou o quarto disco, em que incluiu poemas de Fernando Pessoa, Manuel Alegre, António Aleixo, Francisco Viana, Martinho da Rita Bexiga, António Gedeão, Alda Lara, entre outros. Colaborou com vários músicos como António Chaínho, Arménio de Melo, Manuel Mendes, José Nunes, Raul Nery, José Fontes Rocha, Carlos Gonçalves, Pedro Caldeira Cabral, Pedro Leal, Joel Pina e Martinho D’Assunção, entre outros.

As pesquisas sobre o fado iniciou-as em 1973 quando definitivamente regressou a Portugal, tendo escolhido como matéria de investigação o fado operário e anarco-sindicalista, com o intuito de o cantar.

Após a revolução de 1974, participou na fundação do grupo de teatro A Barraca, compôs música para peças de teatro e gravou três discos de fado tradicional. A carreira discográfica pode então ser dada como encerrada, apesar de ter gravado o ano passado “Fado da Meia Laranja” para uma colectânea do poeta José Luís Gordo.


Notícia retirada do “Público”.

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