terça-feira, 23 de agosto de 2011

IDÍLIO EM BICICLETA







“O dia em que calcorreei os trilhos em redor de Tupiza, foi um dos mais memoráveis e surpreendentes desta viagem. Não só pela beleza dos cantos e recantos em que literalmente me perdi, mas pela surpresa absoluta das paisagens que encontrei, das incríveis formações rochosas, da monumentalidade da puerta del infierno, do cañon del duende, da quebrada seca, do valle de los machos…e especialmente pelo festival das cores mutantes ao longo do dia, dos vermelhos, laranjas, brancos, cinzas.
No hotel Mitru opera a empresa Tupiza Tours, que não só proporciona viagens pelos locais turísticos dos arredores, como oferece tours de vários dias, cruzando o sudoeste da Bolívia, percorrendo a zona das “lagunas” e subindo ao Salar de Uyuni. E os motoristas da Tupiza Tours foram de uma grande simpatia e disponibilidade, dando-me várias indicações e sugestões sobre o percurso que eu pretendia seguir. Mas acima de tudo tentaram dissuadir-me de o fazer. Sugeriram insistentemente que prosseguisse para a fronteira argentina, pois Villazon está a apenas 90 quilómetros de excelente estrada de asfalto, com clima mais ameno e na minha rota para sul, para Ushuaia. Mas San Pedro de Atacama e as suas rosas, que o Sepúlveda fez o favor de me inculcar na cabeça e no coração, é mais que uma teimosia, é uma obsessão poética…claro que não há rosas neste tempo, mas há Atacama.

Depois de tomar o mais alarve pequeno-almoço de que tenho memória, no buffet do Mitru, como se pudesse acumular no estômago ali alimentos e energia para a semana seguinte..., fiz-me à estrada. Na minha rota ficava a Quebrada Palala, nada impressionante comparando com o que já tinha visto e, no fim da primeira dura e extensa subida do dia, Sillar, mais um vale de abundantes formações arenosas, pacientemente esculpidas pelo vento. Mas o mais marcante de Sillar era mesmo a subida, desta vez em espiral, que trepava monte fora, perdendo-se para além do meu olhar. E já nem faltava o intenso vento, do contra, como viria a ser sempre nos próximos dias…”

Texto e imagens de Idílio Freire

Sem comentários: