sábado, 12 de maio de 2018

QUE MUNDO ESTE!


Que direito tinha Yvonne a dizer aquilo, justamente quando ele havia passado vinte e cinco minutos sem tocar em qualquer bebida decente por amor dela e isto para chegar à conclusão de que, aos olhos de Yvonne, estava tudo menos desembriagado! Ah, uma mulher era incapaz de reconhecer os riscos, as complicações e – sim -  a importância da vida de um bêbedo! Qual seria o inconcebível ponto de vista em que ela se estribaria para avaliar o que tinha sido a vida dele antes do seu regresso? E Yvonne não sabia nada, nada de tudo aquilo por que ele recentemente passara, como por exemplo, a queda que dera na Calle Nicarágua, o aprumo, a calma e até a valentia que ele então demonstrara por altura do uísque irlandês de Burke! Que mundo este! E o pior de tudo é que ela havia estragado aquele momento. Porque o Cônsul, agora, lembrando-se do dito de Yvonne: «Talvez tome um depois do almoço» e tudo o que aquela frase subentendia, sonhava que teria sido capaz de dizer impulsivamente (só por causa do comentário dela e arriscando até a própria salvação): «Sim, claro que havemos de ir!». Mas quem é que podia concordar com uma pessoa, senhora daquela certeza enorme de que ele se encontraria no seu estado normal daí a dois dias? Aquilo era como ignorar, segundo o conceito superficialissimo de Yvonne, o que toda gente sabia: que ninguém era capaz de descobrir quando é que ele estava bêbado.

Malcolm Lowry em Debaixo do Vulcão

Legenda: fotograma de Debaixo do Vulcão de John Huston

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