sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

OLHAR AS CAPAS



Capitão de Médio Curso

Baptista-Bastos
Capa: José Araújo
Editorial Caminho, Lisboa, Julho de 1977

O relato do que se passa no comportamento dos homens encontramo-lo todos os dias, em todos os jornais: na crónica do crime, nos telexes do estrangeiro, na política nacional, na reportagem desportiva, cada repórter, com a sua verdade e com o grande propósito de ser eficiente em a transmitir – em colocar um anónimo tijolo na casa que se vai erguendo. Mais do que uma instituição pública, o jornal é uma declaração de amor, um momento, e a sua arte reside justamente na virtude de chegar na hora, na criação do contraponto entre o que permanece e o que vai acontecendo.
A solidão do jornalista decorre da fraternidade por ele jamais recusada, da responsabilidade por ele aceite como princípio ético, da severidade imposta pelo comércio das ideias feito com outros homens. Mas a solidão do jornalista é intermediária, porque reflecte uma época também intermediária, onde o poder, a força e a riqueza têm menor importância do que a ciência. Sendo acto, sonho, declaração de amor, o jornal é também uma ciência – eis porque os tiranos temem o prestígio do jornal que vê claro e escreve vivo: a felicidade apoia-se na verdade, a ilusão assenta na mentira.

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