sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

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Neste excerto decarta, António Ramos Rosa refere-se aos sonetos de Jorge de Sena publicados em As Evidências de 1955.

Ramos Rosa copiou à mão todos os sonetos que Jorge de Sena lhes emprestara.

Ramos Rosa ficou deslumbrado com a leitura desses sonetos.

«Perdoe-me o que haja nesta de redundante, mas não duvide do meu entusiasmo nem da certeza, que também é profundamente minha, de que os seus sonetos são uma grande coisa (uma grande e bela coisa!).»

Jorge de Sena escreveu a Ramos Rosa:

«Devo-lhe, de facto, muitos agradecimentos: por V. ser capaz de entusiasmo, por se ter entusiasmado com os sonetos, por mo ter dito, por mo ter dito directamente e tão bem.
Guarde para si essa cópia que lhe mandei – e devolva-me só a primeira página ou a que quiser, para eu inscrever uma dedicatória.»

É este o Soneto XXI que tanta alegria e deleite deu a António Ramos Rosa:

XXI

Cendrada luz enegrecendo o dia,
tão pálida nos longes dos telhados!
Para escrever mal vejo, e todavia
a dor libérrima que a mão me guia
essa me vê, conforta meus cuidados.

Ao fim terrível que me espera extenso,
nenhum conforto poderei pedir.
Da liberdade o desdobrado lenço
meu rosto cobrirá. Nem sei se penso
ou pensarei quando de mim fugir.

Perdem-se as letras. Noite, meu amor,
ó minha vida, eu nunca disse nada.
Por nós, por ti, por mim, falou a dor.
E a dor é evidente – libertada.

Legenda: capa de As Evidências de Jorge de Sena tirada da Loja Frenesi

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