Carta, datada de
6 de Outubro de 1954, de António Ramos Rosa para Jorge de Sena:
Grato pelo seu telegrama. Mas eu nem de longe lhe
disse tudo o que devia, com mais acerto e não menor entusiasmo. Para que V.
colha alguns merecidos frutos, ainda que como supérfluo excedente à alegria
criadora, noticio-lhe que ainda há dias As Evidências fizeram uma tarde a mim e
ao Dr. Emiliano, a quem lhe faleceu a mulher há menos de quinze dias. Era a
primeira vez que me encontrava com ele, após o evento e, não fossem os sonetos,
eu não saberia como preencher os inevitáveis silêncios destas ocasiões. Tudo se
passou admiravelmente, lendo eu os 21 sonetos e ouvindo ele com grande
admiração. E ainda se fala da inutilidade da poesia! Olhe, este é um facto que
merece consideração, pois que outra coisa lhe faria a ele passar as primeiras
horas de verdadeiro deleite depois de um fatalidade tão grande? Não sei se V.
se zanga comigo pela propaganda que lhe faço, não vá roubar-lhe alguns
exemplares de venda… mas a verdade é que toda a gente, mesmo até as pessoas
«suspeitas», têm gostado
Deixe-me também ter o gosto de lhe assinalar alguns
sonetos que parece não referi na outra carta. O XIV e o XV, o XVIII e o XIX e
finalmente o admirável XXI.
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