sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

E AINDA SE FALA DA INUTILIDADE DA POESIA!

Carta, datada de 6 de Outubro de 1954, de António Ramos Rosa para Jorge de Sena:

Grato pelo seu telegrama. Mas eu nem de longe lhe disse tudo o que devia, com mais acerto e não menor entusiasmo. Para que V. colha alguns merecidos frutos, ainda que como supérfluo excedente à alegria criadora, noticio-lhe que ainda há dias As Evidências fizeram uma tarde a mim e ao Dr. Emiliano, a quem lhe faleceu a mulher há menos de quinze dias. Era a primeira vez que me encontrava com ele, após o evento e, não fossem os sonetos, eu não saberia como preencher os inevitáveis silêncios destas ocasiões. Tudo se passou admiravelmente, lendo eu os 21 sonetos e ouvindo ele com grande admiração. E ainda se fala da inutilidade da poesia! Olhe, este é um facto que merece consideração, pois que outra coisa lhe faria a ele passar as primeiras horas de verdadeiro deleite depois de um fatalidade tão grande? Não sei se V. se zanga comigo pela propaganda que lhe faço, não vá roubar-lhe alguns exemplares de venda… mas a verdade é que toda a gente, mesmo até as pessoas «suspeitas», têm gostado
Deixe-me também ter o gosto de lhe assinalar alguns sonetos que parece não referi na outra carta. O XIV e o XV, o XVIII e o XIX e finalmente o admirável XXI.

Em Correspondência.

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