Por mais que Umberto Eco nos tenha assegurado em
variadíssimas entrevistas que o livro nunca vai morrer, a verdade é que todos
os dias me convenço mais de que, se as coisas não mudarem muito depressa em
relação ao excesso de atenção dada por jovens e adultos aos dispositivos
digitais, a leitura a sério (não só em papel, mas em profundidade, com as
sinapses todas a funcionar) tem os dias contados (excepto para a pequena
minoria que não desiste, e ainda bem). Depois de, na altura da Feira do Livro
de Lisboa, uma agente literária alemã me ter dito que a Alemanha (a Alemanha?)
perdeu seis milhões de leitores em quatro anos, ouço agora um testemunho do
professor responsável pelo mestrado em Edição na Sorbonne num podcast do site da
revista profissional Livres Hebdo e fico de boca aberta: a França
teve a sua maior queda de vendas de livros dos últimos dez anos – 45 milhões de
exemplares em 2018 contra 54 milhões em 2017. A França, que foi sempre o símbolo
do país livre e educado a que aspirávamos (sobretudo, antes do 25 de Abril)
está em declínio há já muitos anos (por isso já tão pouca gente aprende
francês), mas os resultados da Frente Nacional de Marine Le Pen de há uns
tempos para cá e as mais recentes manifestações dos coletes amarelos mostram
bem que as coisas vão pior do que gostaríamos. E, sem leitura, a tendência é
mesmo para bater no fundo…
Maria do Rosário
Pedreira em Horas Extraordinárias.
Legenda:
fotograma de Fahrenheit 451, de François Truffaut.
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