Capitão de Médio Curso
Baptista-Bastos
Capa: José Araújo
Editorial Caminho,
Lisboa, Julho de 1977
O relato do que se passa no comportamento dos homens encontramo-lo
todos os dias, em todos os jornais: na crónica do crime, nos telexes do
estrangeiro, na política nacional, na reportagem desportiva, cada repórter, com
a sua verdade e com o grande propósito de ser eficiente em a transmitir – em
colocar um anónimo tijolo na casa que se vai erguendo. Mais do que uma
instituição pública, o jornal é uma declaração de amor, um momento, e a sua
arte reside justamente na virtude de chegar na hora, na criação do contraponto
entre o que permanece e o que vai acontecendo.
A solidão do jornalista decorre da fraternidade por ele jamais
recusada, da responsabilidade por ele aceite como princípio ético, da
severidade imposta pelo comércio das ideias feito com outros homens. Mas a
solidão do jornalista é intermediária, porque reflecte uma época também
intermediária, onde o poder, a força e a riqueza têm menor importância do que a
ciência. Sendo acto, sonho, declaração de amor, o jornal é também uma ciência –
eis porque os tiranos temem o prestígio do jornal que vê claro e escreve vivo:
a felicidade apoia-se na verdade, a ilusão assenta na mentira.
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