Outro Tempo Outra Cidade
Mário Ventura
Capa: Manuel Dias
sobre «A Parábola dos Cegos» pintura de Brueghel
Livraria Bertrand,
Lisboa. Novembro de 1979
Um dia há-de dizer-se que nunca existiu em Portugal um verdadeiro
fascismo. E isso só servirá para encobrir uma amarga verdade: a de que todos,
mas todos estivemos envolvidos e comprometidos nesta farsa trágica que se
abateu sobre nós. Quando não se pode transformar a sociedade em que vivemos, porque
nos falta a força para isso ou por não o desejarmos com muita intensidade,
acabamos por aceitar, involuntária mas resignadamente, que ela nos transforme e
corrompa. Porquê e como, é uma coisa que não se sabe nem se pode sentir. Vê tu
como este palhaço do Marcelo Caetano, que chegou a iludir e a manter em
expectativa tanta e tão boa gente, crente de que o fascismo se deixaria
liberalizar, acabou decorrido um a afalar das colónias e da guerra:
«O bom combate é o de poupar a nossa África às calamidades das
independências fictícias, proclamadas por meio de autodeterminações ilusórias
que, em homenagem a mitos reinantes, sacrificam os verdadeiros interesses dos
povos e comprometem a paz no mundo.»
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