sábado, 2 de fevereiro de 2019

OLHAR AS CAPAS


Outro Tempo Outra Cidade

Mário Ventura
Capa: Manuel Dias sobre «A Parábola dos Cegos» pintura de Brueghel
Livraria Bertrand, Lisboa. Novembro de 1979

Um dia há-de dizer-se que nunca existiu em Portugal um verdadeiro fascismo. E isso só servirá para encobrir uma amarga verdade: a de que todos, mas todos estivemos envolvidos e comprometidos nesta farsa trágica que se abateu sobre nós. Quando não se pode transformar a sociedade em que vivemos, porque nos falta a força para isso ou por não o desejarmos com muita intensidade, acabamos por aceitar, involuntária mas resignadamente, que ela nos transforme e corrompa. Porquê e como, é uma coisa que não se sabe nem se pode sentir. Vê tu como este palhaço do Marcelo Caetano, que chegou a iludir e a manter em expectativa tanta e tão boa gente, crente de que o fascismo se deixaria liberalizar, acabou decorrido um a afalar das colónias e da guerra:
«O bom combate é o de poupar a nossa África às calamidades das independências fictícias, proclamadas por meio de autodeterminações ilusórias que, em homenagem a mitos reinantes, sacrificam os verdadeiros interesses dos povos e comprometem a paz no mundo.»

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