sábado, 9 de fevereiro de 2019

OLHAR AS CAPAS


Sobre Cinema

Jorge de Sena
Organização e Introdução de Mécia de Sena
Co-organização e Notas de Manuel S. Fonseca
Capa: Luís Miguel Castro
Cinemateca Portuguesa. Lisboa, 1988

Devemos agradecer a Gloria Swanson a coragem inexcedível com que aceitou assumir a interpretação de uma imagem simultaneamente transposta e no íntimo exacta do seu próprio destino de grande astro. A inteligência certeira com que representou a aflitiva deshumanização final de toda uma teoria mistificada da vida ficará na história do cinema como um dos getos mais corajosos que uma celebridade terá executado, e só comparável, na sua essência, à mensagem que Charlot nos trouxe, como um testamento perante o qual nos devemos curvar rendidos, nas suas Luzes da Ribalta. O final de Sunset Boulevard, aquela descida triunfal para a prisão e o manicómio, com a dádiva do público de um rosto gloriosamente prestigiosos e mesquinhamente envelhecido, que só a loucura de uma derradeira aparição angustiosamente nimba, é uma despedida em beleza, uma lição de humanidade, um manifesto de consciência artística.

(Extracto do texto lido, na sala do Cinema Tivoli, sobre Sunset Boulevard de Billy Wilder).

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