Sobre Cinema
Jorge de Sena
Organização e
Introdução de Mécia de Sena
Co-organização e
Notas de Manuel S. Fonseca
Capa: Luís
Miguel Castro
Cinemateca
Portuguesa. Lisboa, 1988
Devemos agradecer a Gloria Swanson a coragem
inexcedível com que aceitou assumir a interpretação de uma imagem
simultaneamente transposta e no íntimo exacta do seu próprio destino de grande
astro. A inteligência certeira com que representou a aflitiva deshumanização
final de toda uma teoria mistificada da vida ficará na história do cinema como
um dos getos mais corajosos que uma celebridade terá executado, e só
comparável, na sua essência, à mensagem que Charlot nos trouxe, como um
testamento perante o qual nos devemos curvar rendidos, nas suas Luzes da
Ribalta. O final de Sunset
Boulevard, aquela descida triunfal para a prisão e o manicómio, com a dádiva
do público de um rosto gloriosamente prestigiosos e mesquinhamente envelhecido,
que só a loucura de uma derradeira aparição angustiosamente nimba, é uma
despedida em beleza, uma lição de humanidade, um manifesto de consciência
artística.
(Extracto do
texto lido, na sala do Cinema Tivoli, sobre Sunset Boulevard de Billy Wilder).
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