O poeta e
professor universitário Manuel Gusmão recebeu a Medalha de Mérito Cultural como
reconhecimento do Governo português.
Discurso de
Graça Fonseca, Ministra da Cultura:
«Há conjugações perfeitas como esta, de estar aqui
neste lugar quase mágico, quase ficção, que é a Biblioteca do Palácio da Ajuda
e prestar homenagem a um poeta e ensaísta como Manuel Gusmão, que certamente
não levará a mal que o caracterize também como uma biblioteca, tanto de si
mesmo, como de nós enquanto linguagem e poesia. Mas há também lugares ingratos
e um deles é encerrar esta cerimónia e colocar as minhas palavras depois das de
Manuel Gusmão, tão bem e tão musicalmente lidas por Fernanda Lapa e Ana Gusmão.
O que me cumpre, assim postas as coisas, é reconhecer o óbvio e declarar esta
medalha como aquilo que ela pode representar face a um autor como Manuel
Gusmão. Ela não vem afirmar o mérito cultural de um poeta em que os séculos de
tradição são convocados para criar um depoimento singular e incisivo sobre os
dois séculos em que viveu. O mesmo sobre um professor e ensaísta lúcido, dedicado
e que criou, nos seus textos, formas e pontes de leitura dos grandes autores da
poesia portuguesa do século XX, muitos deles seus pares e contemporâneos, como
Herberto Helder e Carlos de Oliveira. Se as palavras pouco podem, quanto mais
as medalhas. Prefiro, a tudo isto, olhar para esta medalha como uma homenagem
ao poeta Manuel Gusmão e, através dos seus textos, à grande literatura
portuguesa do século XX e aos seus pares, a José Gomes Ferreira, a Carlos de
Oliveira, a Nuno Bragança, a José Cardoso Pires, entre tantos outros. Digo-o
porque tanto enquanto autor, como crítico ou investigador, o diálogo fez parte
da forma poética de Manuel Gusmão, na procura de beleza como uma exultação
comunicável e partilhável. Termino evocando uma poderosa associação de conceitos
que Manuel Gusmão utilizou para dar título a um dos seus livros de ensaios:
tatuagem e palimpsesto. Esta condição paradoxal de permanência e reescrita, de
perenidade e reutilização, que não deixa de ser testemunhada por estas estantes
que nos rodeiam, parece-me encerrar muito do percurso poético, autoral e
pessoal que hoje homenageamos. O que me resta é, agora, reconhecer tudo isto e
agradecer a Manuel Gusmão por dignificar, com o seu nome, este mérito cultural
que não se reconhece, mas que se diz, tal como a poesia, até contra as
evidências. Somos todos, por assim dizer, bibliotecas, mas uns têm a sorte de
dedicar toda uma vida à Biblioteca, agora com maiúscula».
Um poema de
Manuel Gusmão:
E o que te diz ela a ti … essa canção
que só pode ser ouvida por quem
na sua própria voz cantando a escuta?
– Nada lhe peço que me diga Apenas
que venha que continue a chegar
até mim com a sua morte a viver
oferecida viva e sem remédio.
que só pode ser ouvida por quem
na sua própria voz cantando a escuta?
– Nada lhe peço que me diga Apenas
que venha que continue a chegar
até mim com a sua morte a viver
oferecida viva e sem remédio.
E há então… uma tal soturna idade
uma tão violenta doçura… agora
que para sempre… por momentos
adia o meu morrer.
uma tão violenta doçura… agora
que para sempre… por momentos
adia o meu morrer.
QUOTIDIANOS
1.
O nível
cultural, intelectual da maioria dos nossos juízes não se recomenda.
Também podemos
sobre Direito, duvidar do que andaram eles a aprender na Faculdade.
Há dezenas de
casos de péssimas atitudes e decisões de juízes, mas peguemos nesta.
Uma advertência
registada foi a pena disciplinar aplicada a Neto de Moura, juiz do Tribunal da
Relação do Porto que desvalorizou uma agressão grave praticada pelo marido
contra a “mulher adúltera”, num acórdão de Outubro de 2017.
O Conselho Superior
da Magistratura determinou essa pena disciplinar com apenas quatro votos, tendo
sido necessário ao presidente usar o voto de qualidade. Outros quatro membros
do conselho defenderam a aplicação de uma pena de multa e os sete que votaram a
favor do arquivamento do caso optaram pela abstenção. Numa anterior decisão igualmente controversa – oito votos a favor e sete contra - o órgão de
tutela dos juízes recusou arquivar o caso, como sugeria o conselheiro que
analisou o processo.
Recorde-se que o citado juiz nos dois acórdãos de 2017 que fundamentaram a abertura do processo disciplinar de que foi alvo (foram detectadas outras decisões do mesmo autor, mais antigas, com argumentações semelhantes, mas a responsabilidade disciplinar por aquelas já havia prescrito), o juiz desembargador do Tribunal da Relação do Porto apelida as vítimas de adúlteras, mentirosas, falsas e desleais, cita a Bíblia, invoca costumes religiosos e tradições que as punem com a morte ou normas legais de antanho que permitiam aos maridos o direito de as matar.
O advogado do
desembargador Neto de Moura diz que o juiz irá recorrer da advertência para o
Supremo Tribunal de Justiça.
2.
O que se vai
conhecendo sobre a gestão dos diversos
Conselhos de Gerência da Caixa Geral de Depósitos, são uma vergonha,
Luís Marques no Expresso:
Sem comentários:
Enviar um comentário