domingo, 24 de fevereiro de 2019

OLHAR AS CAPAS



As Mulheres de Messina

Elio Vittorini
Tradução: Nunes Martinho
Capa: João da Câmara Leme
Colecção Contemporânea nº 92
Portugália Editora, Lisboa, Setembro de 1966

Eu sei como pode imaginar este nosso país quem nunca o percorreu e dele conheça somente a sua alongada figura numa página do atlas; um planalto de secas terras avermelhadas entre dois mares que estão a ocidente e a oriente, árido, sem uma árvore, queimado pelos ventos e pelo hálito do sol, pelo hálito do sal; e assim é verdadeiramente nas grandes extensões, quando se sobe acima dos trezentos metros em viagem, entre uma e outra das suas cidades com torres e cúpulas, árido por grandes extensões, nu por grandes extensões, alto com terras avermelhadas entre Emília e Toscana ou entre Siracusa e Roma, tal como o deserto é o deserto entre um e outro dos seus oásis.
Ao longo do deserto os homens são viajantes, e do mesmo modo no nosso planalto
as gentes são nómadas, andam por aqui e por ali, pelo sul em direcção ao norte ou do norte em direcção ao sul em compridos comboios, donde se observa, permanecendo de pé três ou quatro dias de seguida, cinco de seguida, o que esta terra é em qualquer parte e que no seu todo se chama Itália, com lugares tão diferentes um dos outros como bari e Bolonha, Catanzaro e Génova.

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