As últimas
palavras do excelente Se Numa Noite de Inverno Um Viajante de Italo
Calvino que nos acompanha desde Agosto do ano passado:
Puxa os óculos para a testa. – Sim, um romance que começa assim –diz -, ia jurar que já o li… Você tem só este princípio e queria achar a continuação, não é verdade? O problema é que dantes os romances começavam todos assim. Havia alguém que passava por um caminho solitário e via uma coisa que lhe chamava a atenção, uma coisa que parecia ocultar um mistério ou uma premonição; então pedia explicações e contavam-lhe uma longa história…
- Olhe, deve haver um equívoco qualquer – tentei
adverti-lo -, isto não é um texto… são só os títulos… o Viajante…
- Oh, o viajante aparecia só nas primeiras páginas e
depois nunca mais se falava dele, a sua função tinha acabado… O romance não era
a história dele…
- Mas não é essa história que eu queria saber como vai
acabar…
Interrompe-te o sétimo leitor: - Você acha que todas
as estórias devem ter um princípio e um fim? Antigamente um conto só tinha duas
maneiras de acabar: passadas todas as provas, o herói e a heroína casavam-se ou
morriam. O sentido último para que remetem todas as estórias tem duas faces: a
continuidade da vida, a a inevitabilidade da morte.
Deténs-te um momento a reflectir nestas palavras. Depois
subitamente decides que queres casar-te com Ludmila.
Agora são marido e mulher, Leitor ve Leitora. Uma
enorme cama de casal acolhe as vossas leituras paralelas. Ludmila fecha o
livro, apaga o candeeiro do seu aldo, abandona a cabeça na almofada e diz: -
Apaga também a luz. Não estás farto de ler?
E tu: - É só mais um instante. Estou mesmo a acabar Se Numa noite de Inverno um viajante de
Italo Calvino.
Italo Calvino em
Se Numa Noite de Inverno Um Viajante
Legenda: fotograma de Domicilio Conjugal de François Truffaut
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