A Caminho de Fátima
Mário Castrim
Capa e
Ilustrações: José Miguel Ribeiro
Colecção De Par
em Par nº 18
Editorial
Caminho, Lisboa Maio de 1992
No ano passado, o marido da Drª Ester tivera um AVC.
Duas vozes:
- Um quê?
Um AVC quer dizer Acidente Cardiovascular.
- Credo – mastigou a Fani. – Pensei que era um partido
político.
O marido da Drª Ester ficou duas semanas internado. Os
médicos asseguraram que tinha sido coisa pouca, for mais um ameaço do que
propriamente um acidente.
- Foi um acevezinho… - resumiu Fani.
Entretanto, a vigilância devia manter-se, pois em
qualquer momento a situação podia agravar-se. Pelo sim, pelo não, a Drª Ester
fez uma promessa: iria a Fátima, daria à Senhora o seu anel de noivado. Hoje,
só a pérola valia um dinheirão.
- Ó Céu – interrompeu a Fani, chocalhando o biscoito
dentro do chá -, tens a certeza que o anel serve no dedo da Senhora?
A Céu fez que não ouviu. E continuou a falar da
promessa. A Drª Ester andaria té ao altar, de joelhos, tanto tempo quanto
pudesse. A promessa tinha dois fins: o primeiro, agradecer a benignidade do ACV
e a boa solução do caso; o segundo, prevenir outro acidente. A Drª Ester
desconfiava que o coração do marido continuava a não funcionar bem.
- Essa do anel, foi bonito – disse a D. Rosália.
Fani suspirou, com grande estardalhaço de biscoito:
- Vão-se os anéis e fiquem os maridos…
D. Rosália não percebia bem era a história dos
joelhos:
- Ir de joelhos até poder? Olha a grande África. Ainda
se ela dissesse: «Até não poder…»
- É tudo uma maneira de falar – esclareceu a Fani,
muito compreensiva.
- Tal e qual – foi a vez da Céu. – E se vocês
soubessem como aquele casal se dá bem… A promessa está mioto apropriada. Quem
quer bons maridos guarda-os.
Lembrou-se do seu defunto e a voz tremeu-lhe.
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