Neste excerto decarta, António Ramos Rosa refere-se aos sonetos de Jorge de Sena publicados em As
Evidências de 1955.
Ramos Rosa
copiou à mão todos os sonetos que Jorge de Sena lhes emprestara.
Ramos Rosa ficou
deslumbrado com a leitura desses sonetos.
«Perdoe-me o que haja nesta de redundante, mas não
duvide do meu entusiasmo nem da certeza, que também é profundamente minha, de
que os seus sonetos são uma grande coisa (uma grande e bela coisa!).»
Jorge de Sena
escreveu a Ramos Rosa:
«Devo-lhe, de facto, muitos agradecimentos: por V. ser
capaz de entusiasmo, por se ter entusiasmado com os sonetos, por mo ter dito,
por mo ter dito directamente e tão bem.
Guarde para si essa cópia que lhe mandei – e devolva-me
só a primeira página ou a que quiser, para eu inscrever uma dedicatória.»
É este o Soneto
XXI que tanta alegria e deleite deu a António Ramos Rosa:
XXI
Cendrada luz enegrecendo o dia,
tão pálida nos longes dos telhados!
Para escrever mal vejo, e todavia
a dor libérrima que a mão me guia
essa me vê, conforta meus cuidados.
Ao fim terrível que me espera extenso,
nenhum conforto poderei pedir.
Da liberdade o desdobrado lenço
meu rosto cobrirá. Nem sei se penso
ou pensarei quando de mim fugir.
Perdem-se as letras. Noite, meu amor,
ó minha vida, eu nunca disse nada.
Por nós, por ti, por mim, falou a dor.
E a dor é evidente – libertada.
Legenda: capa de
As Evidências de Jorge de Sena tirada da Loja Frenesi
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