Antimundos
Voznessenski
Versão e
Prefácio de Armando da Silva Carvalho
Capa: Fernando
Felgueiras
Cadernos de
Poesia nº 12
Publicações Dom
Quixote, Lisboa, Maio de 1970
Fogo nas
Belas-Artes
Há fogo nas Belas-Artes!
Nas aulas, nos desenhos,
como gritos de amnistia através das grades
nós gritamos: Fogo!
Na frente adormecida
impudica, insolente,
há uma janela a arder,
vermelha, chamejante!
Apresentámos já as nossa teses,
é agora a vez de as defender.
E debaixo dos pesos, nos armários,
são os meus trabalhos que crepitam!
Whatman – rasgado
num rubro cair de folhas!
Os meus projectos ardem
e ardem as cidades!
Alimentada a petróleo
a chama devorou cinco anos –
cinco Verões e cinco Invernos…
Karinotchka Kracilnikova,
repara como nós ardemos!
Adeus ó Belas-Artes!
Deixai arder à vontade
os presèpiozinhos com os seus amores
e todos esses céus de rococó!
Ó juventude, ave do paraíso,
ó ave louca,
o teu diploma transformou-se em chamas!
Agora é tempo de nos separarmos.
A vida – um punhado de cinzas.
Todos nós ardemos.
Ardemos porque estamos vivos.
E amanhã, nos dedos que desenhem,
uma abelha irá deixar o seu veneno:
a ponta de um compasso
em mãos cruéis.
… Mas tudo ardeu já completamente.
Entre
suspiros.
Tudo
acabou! E tudo recomeça!
E o melhor é imos ao cinema.
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