domingo, 7 de novembro de 2021

SARAMAGUEANDO

15 de Fevereiro de 1994

O destino, isso a que damos o nome de destino, como todas as coisas deste mundo, não conhece a linha recta. O nosso grande engano, devido ao costume que temos de tudo explicar retrospectivamente em função de um resultado final, portanto conhecido, é imaginar o destino como uma flecha apontada directamente a um alvo que, por assim dizer, a estivesse esperando desde o princípio sem se mover. Ora, pelo contrário, o destino hesita muitíssimo, tem dúvidas, leva tempo a decidir-se. Tanto assim que antes de converter Rimbaud em traficante de armas e marfim em África, o obrigou a ser poeta em Paris.

José Saramago em Cadernos de Lanzarote, Volume II

2 comentários:

Seve disse...

Estes "CADERNOS DE LANZAROTE" são pérolas (todos, creio que serão cinco mais um).

Seve disse...

Agora estou a ler um betinho (MEC) que se julgará o Saramago (da direita), escreve bem mas só aborda temas fúteis, que, apesar de tudo, nos arrancam alguns sorrisos; assuntos sérios só muito raramente...