quarta-feira, 24 de novembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

Continuo a lamentar que a Porto Editora, a Fundação José Saramago, quem quer seja, ainda não tenha começado a publicar a correspondência que José Saramago manteve com os seus pares e também com os seus leitores.

Sobre a correspondência com os seus leitores, disse José Saramago:

«Tenho milhares de cartas e costumo dizer que a obra completa de um escritor só estará realmente completa publicando-se uma selecção das cartas dos leitores porque – fala-se tanto da teoria da recepção – é naquelas carta que se vê realmente o que é a recepção.

No que respeita às centenas de entrevistas que Saramago deu ao longo da vida, não há qualquer referência dada pela Porto Editora, a Fundação José Saramago, quem quer que seja.

Recorde-se que Mécia, mulher de Jorge de Sena, teve o c cuidado de publicar a correspondência que o marido manteve, bem como as muitas entrevistas que deu.

As entrevistas de Saramago, que eu saiba, apenas tiveram divulgação por parte dos entrevistadores que as promoveram: Conversas com Saramago por iniciativa de José Carlos de Vasconcelos e Por Saramago por iniciativa de Anabela Mota Ribeiro.

Os sublinhados de hoje debruçam-se sobre as entrevistas dadas por Saramago a José Carlos de Vasconcelos. O primeiro em que é abordado o romance História do Cerco de Lisboa, que amanhã tarei aqui:

«…há uns três ou quatro anos, estando na Caminho a conversar com a minha revisora, a Rita Pais (cujo nome, aliás, aparece numa enunciação de nomes de de revisores de editora de que se fala no Cerco, é uma homenagem), e ela pergunta-me: «Então quando lança um livro?» eu respondi: »Um dia destes, estou a pensar nisso», e no meio da conversa, a Rita tem uma frase a que na altura não liguei especialmente: «Dos revisores é que nunca ninguém se lembra». Passaram os meses, e a certa altura começa a desenhar-se dentro de mim a personagem do revisor. Portanto, há uma ideia, um motor inicial, que tem 15 anos, ou coisa que o valha; e há depois uma espécie de «cristilização», que parte de uma frase tão corrente como é «dos revisores é que ninguém se lembra». A partir daí começo a pensar a minha personagem.».

O segundo sublinhado é um repisar da ideia da publicação da correspondência dos e com os leitores:

«Tenho conversado com a Pilar sobre isto. As Obras Completas estão incompletas porque lhes falta o outro lado, ou como agora se diz a recepção dos leitores. Gostaria, depois de já cá não estar, que a Pilar organizasse, para publicar, cartas absolutamente extraordinárias, muitas vezes de pessoas sem qualquer preparação académica, documentos humanos de uma profundidade, de uma beleza, de uma emoção raras, que me chegam de toda a parte. E que juntasse aos 30 e tal volumes que eu deixe escritos um ou dois com essas cartas.»

3 comentários:

Rui Figueiredo disse...

Curioso: está a comparar Mécia de Sena com a D. Pilar?

Seve disse...

Continuo a confiar na Pilar. De qualquer modo, a ver vamos...

Sammy, o paquete disse...

Caro Rui Figueiredo: Longe de mim qualquer ideia de comparar Mécia de Sena com Pilar del Rio.
Apenas referia o trabalho que Mécia realizou com a obra de Jorge de Sena, especialmente no tocante à publicação da correspondência e das entrevistas do marido, comparado com o que, nesses campos, ainda não foi feito com José Saramago, seja isso responsabilidade de Pilar del Rio ou da Fundação José Saramago a que preside.
Devo dizer que tenho pouca simpatia por Fundações sejam elas do que forem, de quem forem.

Caro Seve. no que fundamentalmente confio, é na obra de José Saramago.
Não conheço pessoalmente Pilar del Rio e, por motivos muito vários, e muito meus, não me causa simpatia.