terça-feira, 30 de novembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

Para sublinhados saramaguianos, peguei na peça Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido.

Não foi por acaso.

Disse ontem que iria deixar repousar O Amor Possível, a longa conversa entre José Saramago e Juan Arias, mas volto porque ao folhear o livro fui ter às palavras que Saramago escreveu como eventual explicação da peça:

«Se há uma ópera no mundo capaz de pôr-me de joelhos, rendido, submetido, é esta».

Na conversa com Arias, Saramago diz:

«Como te dizia há um momento, agora estou a pensar assim, mas amanhã, no momento da minha morte, tudo poderia acontecer, inclusive que negue tudo o que acabo de afirmar. Mas isso não significa, nem significará nunca que tenha razão então. Estive a ouvir antes Don Giovanni de Mozart e tem oito minutos de música que, para mim, nunca será superada. Refiro-me ao último acto, quando aparece a Don Giovani a estátua do comendador. O comendador exige-lhe que se arrependa, senão leva-o para o inferno. Para mim Don Giovanni é uma ópera melhor do que Parsifal, com toda a sua mística, é a grande ópera e a grande música. Don Giovanni, que é um canalha, um enganador, um tipo desprezível, diz que não, que não se arrepende, e isto é uma lição de dignidade: eu errei, mas o que significa dizer que me arrependo? Não posso apagar todos os males que causei durante a minha vida, as vítimas estão aí, dizer que me arrependo é demasiado fácil.»

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