quinta-feira, 27 de outubro de 2022

SEM VERGONHA DE O ADMITIR


 Além disso – não tenho vergonha de o admitir – não gostava de ler. Ao contrário da minha irmã, que gostava, eu era um rapaz preguiçosos que não sentia qualquer prazer em agarrar-se a um livro. E porque haveria de sentir? A rádio e os filmes eram muito mais entusiasmantes. Eram menos exigentes e mais vivos. Na escola, nunca souberam a apresentar-nos a leitura de modo a que aprendêssemos a gostar dela. Os livros e histórias escolhidos eram aborrecidos, imbecis, antisséticos. Ninguém naquelas histórias cuidadosamente escolhidas para jovens rapazes e raparigas se comparava ao Homem-Elástico ou ao Capitão Marved. Seria de esperar que um rapaz sexualmente ativo (mais uma vez desafiando Freud, nunca tive um período de latência) que gosta de filmes de gangsters com Bogart e Carey e de louras baratas e sensuais se preocupasse minimamente com «O Presente dos Magos»? Portanto, ela vende o cabelo para lhe comprar um relógio e ele vende o relágio para lhe comprar pentes. A moral que daí retirei foi foi que é sempre mais seguro dar dinheiro.

Woody Allen em A Propósito de Nada

Sem comentários: