segunda-feira, 31 de outubro de 2022

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


 Os leitores vistos pelo escritor Saramago:

 «Pergunto-me se o que move o leitor à leitura não será a secreta esperança ou a simples possibilidade de vir a descobrir, dentro do livro, mais do que a história contada, a pessoa invisível, mas omnipresente, que é o autor. O romance é uma mascara que oculta e ao mesmo tempo revela os traços do romancista. Se a pessoa que o romancista é não interessa, o romance não pode interessar. O leitor não lê o romance, lê o romancista.»

 Cadernos de Lanzarote,  Volume II, página 60.

 «Quem lê, lê para quê? Para encontrar, ou para encontrar-se.? Quando o leitor assoma à entrada de um livro, é para conhecê-lo ou para se se reconhecer a si mesmo nele?»

 Último Caderno de Lanzarote, página 250

 «Uma leitora alemã, Maria Schwenn, de Offenbach, escreveu-me para dizer que ao ler em o Evangelho segundo Jesus Cristo a frase: «Homens, perdoai-lhes porque ele não sabe o que fez», sentiu desejo de imitar o Raimundo Silva da História do Cerco de Lisboa, mudando de lugar o não, para ficar assim: «Homens, não lhe perdoeis, porque ele sabe o que fez.» Como se verifica. Maria Schwenn foi muito mais longe do que eu, pondo na boca de Jesus as palavras que são provavelmente a conclusão lógica do romance e a que o autor não se atreveu, ou, melhor dizendo, nem tal lhe passou pela cabeça. Não há dúvida de que certos leitores, de tão bons que são, dariam escritores ótimos, capazes realmente de descer ao fundo das coisas. A partir de agora, remate cada leitor o livro como melhor lhe parecer».

Último Caderno de Lanzarote, página 83

 «O que o autor vai narrando nos seus livros, é, tão-somente, a sua história pessoal. Não o relato da sua vida, não a sua biografia linearmente contada, quantas vezes anódina, quantas vezes desinteressantes, mas uma ou outra, a vida labiríntica, a vida profunda, aquela que dificilmente ele ousaria ou saberia contar com o seu próprio nome.»

Último Caderno de Lanzarote, página 253

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