sexta-feira, 28 de outubro de 2022

O AMOR EM CENTRAL PARK

Mataram o Amor em Central Park.

Vieram para isso

as raparigas mais lindas dos bairros periféricos.

Com blue-jeans, sorrisos, cautelosos sonhos.

Homens adolescentes trouxeram o preciso.

Camisolas coloridas, bonés,

eis o uniforme do esquadrão maldito.

 

(Como era domingo o Amor

estava muito quieto ao sol.)

 

Mataram o Amor em Central Park.

Mataram-no a golpes de latas de conservas,

com salsichas terríveis, gritaria.

Estriparam-lhe o ventre.

Roubaram-lhe o impulso. Como trapos

removeram-lhe os véus da luxúria.

Mais adiante deitaram fora o desejo.

E o Amor, despido, errante, vagueou pela relva.

 

Cantava uma música de carrossel:

Iam tão seguros os cavalitos pelo ar…

 

O Amor morreu às oito

à sombra de uma árvore.

 

María Jesús Echevarría em Poemas da Cidade

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