segunda-feira, 11 de setembro de 2023

RITUAIS SAGRADOS



As coisas que acontecem à mesa de café.

Conversar tornou-se um capricho, escreveu um dia Carlos Tê,  ele que tanto gosta  de cafés e das conversas variadas que por lá acontecem.

Disse numa entrevista:

«Ir ao café é um ritual absolutamente sagrado, desde que me conheço. Comprar o jornal e tomar um café, todos os dias. É impensável não o fazer. Fico uma hora a ler o jornal. Fiz parte da minha vida em café, estudei em cafés, li quilómetros de livros em cafés, mesmo com o barulho das pessoas.»

E conclui: «Hoje somos mais livres mas vivemos mais perdidos.»

Por cafés, um texto, «O Dr. Carlos e os Políticos», tirado de Os Criptogâmicos do Eduardo Valente da Fonseca:

«Uma mesa de café. Em volta, cabeças em surdina. A conspiração dos políticos, sempre às mesmas horas. Os bolsos cheios de naftalina. O Dr. Carlos, com uma dessas caras que servem de apresentação a um ideal político, entrava no café com ar de segredo já sabido por todos, e soprava a novidade suficientemente alto para ficar gravada no ouvido mais distante da sala. No final das reuniões concluíam todos cheios de sossego, que, infelizmente, a revolução não era para já. O Dr. Carlos precisava de apodrecer na sua quinta dos arredores. Todos eles precisavam de apodrecer nos arredores ou ali, mas o que todos levavam era muito tempo.»

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