sábado, 15 de fevereiro de 2025

MÚSICA PELA MANHÃ

A amiga gritou:

- Ponha aí a música mais baixa, que a gente tem de conversar.

Roque sentou-se e a amiga começou.

- Eu não sei se você já reparou que eu estou a ficar surda.

- Se é por isso, compra-se um aparelho.

- Pouco gozo, que eu estou a falar a sério.

- Também eu: e olhe que não pior surdo do que aquele que não quer ouvir.

A amiga, procurando manter-se calma, explicou:

- Eu só quero que você perceba que a minha surdez é motivada pela música que você ouve constantemente aos berros.

- Isso pode lá ser! – espantou-se Roque. Se fosse assim como você diz, estávamos os dois surdos.

- É exactamente aí que bate o ponto. Você não está surdo, porque lhe falta sensibilidade, já tem calo no ouvido. Agora eu, que sou pessoa de requintes, gosto de músicas com pés e cabeça, compreende?

- Nunca dei por isso.

- Mas vai passar a dar. A partir de agora, eu também quero as minhas musiquinhas.

Roque riu baixinho.

- E o que são as suas “musiquinhas”?

- Coisinhas calmas e de qualidade: uns clássicos, umas orquestras e assim um ou outro cantor de que eu goste.

- Então escolha lá um disco.

- Quero ouvir a Maria Botânica.

- Roque consultou o ficheiro dos discos.

- Olhe Maria Botânica não tenho: mas posso arranjar qualquer coisa com flores.


Bernardo Brito e Cunha em O Roque e a Amiga

Legenda: fotografia em O Roque e a Amiga

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