A amiga gritou:
- Ponha aí a música mais baixa, que a gente tem de
conversar.
Roque sentou-se e a amiga começou.
- Eu não sei se você já reparou que eu estou a ficar
surda.
- Se é por isso, compra-se um aparelho.
- Pouco gozo, que eu estou a falar a sério.
- Também eu: e olhe que não pior surdo do que aquele
que não quer ouvir.
A amiga, procurando manter-se calma, explicou:
- Eu só quero que você perceba que a minha surdez é
motivada pela música que você ouve constantemente aos berros.
- Isso pode lá ser! – espantou-se Roque. Se fosse
assim como você diz, estávamos os dois surdos.
- É exactamente aí que bate o ponto. Você não está
surdo, porque lhe falta sensibilidade, já tem calo no ouvido. Agora eu, que sou
pessoa de requintes, gosto de músicas com pés e cabeça, compreende?
- Nunca dei por isso.
- Mas vai passar a dar. A partir de agora, eu também
quero as minhas musiquinhas.
Roque riu baixinho.
- E o que são as suas “musiquinhas”?
- Coisinhas calmas e de qualidade: uns clássicos, umas
orquestras e assim um ou outro cantor de que eu goste.
- Então escolha lá um disco.
- Quero ouvir a Maria Botânica.
- Roque consultou o ficheiro dos discos.
- Olhe Maria Botânica não tenho: mas posso arranjar qualquer coisa com flores.
Bernardo Brito e Cunha em O Roque e a Amiga
Legenda:
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