É bom ouvir de noite uma trompa de caça
Despir muito depressa a túnica da Lua
E descobrir o amor no forro de uma casa
onde apenas vibrava a memória da chuva
Depois de arrebatar o corpo da amada
ao ritmo infernal de um batuque de guerra
é bom permanecer na mesa de montagem
misturando Anfião
Vivaldi Apollinaire
É bom lançar ao fogo um velho dicionário
É bom o crepitar das palavras antigas
Adivinhar quais são as que por fim renascem
e que sabem voar ao saírem das cinzas
É bom pedir perdão ao som de uma sonata
Segredar num soneto a ária do remorso
É bom recomeçar com música de jazz
Vestir sem ninguém ver a túnica de Apolo
David
Mourão-Ferreira de Do Tempo ao Coração em Obra Poética
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