quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

OLHAR AS CAPAS


Corpo e Alma

Cardoso Martha

Carta de prefácio de Eugénio de Castro

Capa: José de Lemos

Edição do Autor, Figueira da Foz, Setembro de 1957

 

A Cesário Verde

(No centenário do seu nascimento)

 

                                      Cesário descia o Chiado, quando

                                      um poetastro lhe gritou da porta da

                                      Havaneza:

                                      Adeus, Cesário Azul!

                                      Retruca-lhe o poeta:

                                      Adeus, seu troca-tintas!

 

Cesário Verde amigo, meu Cesário,

fazes cem anos este mês, e eu digo

que os fazes, porque és vivo, e não consigo

crer no que os outros digam em contrário.

 

Festejarei contigo o centenário;

Dá cá o braço e vem daí comigo

através dos pomares, vinhas e trigo

- o teu encanto neste mundo vário.

 

Esquece os vates de melena ao vento,

que já não há, como em teu tempo havia

-«verde-azuis» do Chiado turbulento…

 

São piores os de agora – quem diria! –

os  que mudam o rumo ao sentimento

e os que trocam as tintas da poesia.

 

Lisboa – Fevereiro de 1955

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