Às vezes entretenho-me a sentir cada palavra minha transformar-se em tantas quantas as pessoas que me escutam. As palavras multiplicam-se, irradiam, ficam-lhes no espírito como esses pássaros que, entrando em nossas casas, se debatem horas infinitas contra os vidros. É então que, com frequência, me apetece abrir o peito, expor todas as vísceras, os órgãos sobre os quais a luz do coração incide, e que, se acaso o sol me sobre na consciência, sinto os dedos regressarem lentamente às mãos. Trazem então consigo uma vontade imensa de jogar, de abrir de novo as vísceras, mostrar por dentro o corpo, esse magnífico xadrez de que o trabalho dos meus órgãos equivale à sucessão dos lances.
Luís Miguel Nava
em Poesia
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