Fundiu-se o olhar do
poeta em lágrimas salgadas
e o poeta não quis
cantar o que os seus olhos viram.
É que o poeta só
cantava
para as meninas dos
balcões floridos
de cactos e de cravos,
para aquelas
que sonham com estrelas
e príncipes de lenda.
– E preferiu cegar.
Fechar os olhos ao
vaivém da rua
e continuar morando em
sua Torre de Marfim.
Ah! Poeta inútil!
Enrouqueceu a cantar as
líricas inúteis
aos cravos das janelas
das meninas fúteis
e ninguém mais se
lembrará de ti.
Mas se cantares a rua,
a fome, o sofrimento,
se abrires os olhos
sobre o nosso mundo,
se conseguires que toda
a gente o veja
e o sinta, e sofra, só
de ver sofrer,
ninguém se lembrará de
ti, poeta,
mas terás feito a tua
luta,
e, nela,
justificado uma razão
de ser.
Álvaro Feijó em Os Poemas de Álvaro Feijó
Sem comentários:
Enviar um comentário