terça-feira, 30 de março de 2010

BARES




De Nicolás Guillén, o maior poeta cubano e mais "fidelista" do que o próprio Fidel, um poema de que o Hemingway haveria de gostar. Está incluído no livro "La Paloma de Vuelo Popular".
Lamentavelmente não tenho a Obra Completa de Nicolas Guillen à mão e a versão que vos deixo é de uma "Antologia Poética" publicada no Brasil. O aviso é importante, porque significa que é um poema cubano em português abrasileirado...

BARES

Amo êsses bares e tabernas
junto do mar,
onde a gente conversa e bebe
apenas por beber e prosear.
Onde João Ninguém chega e pede
seu trago alimentar
e estão João Bronco e João Navalha
e João Narizes e até João
Simples, o só, o simplesmente
João.

Lá, a branca onda
bate da amizade
amizade de gente sem retórica
uma onda de olá! e como estás?
Lá tudo cheira a peixe,
a mangue, a rum, a sal
e a camisa suada e secando no sol.

Busca-me, irmão e me acharás
em Havana, no Pôrto,
em Jacmel, em Changai,
com a humilde gente
que, apenas por beber e prosear,
povoa os bares e tabernas junto ao
mar.


Este meu exemplar da “Antologia Poética” está assinado pelo poeta, com data de 28 de Junho de 1975, e lembro-me da história.

Guillen estava a autografar na Feira do Livro, não me lembro bem em que Stand mas não estarei muito longe da verdade se disser que era o das “Editorial Caminho"... Quando eu cheguei com o livro, ele mirou-a e remirou-a com ar de espanto. Perguntou-me onde a tinha comprado, e eu disse-lhe que em Lisboa ,mais propriamente na livraria "Boa Leitura", na Avª Almirante Reis quase a chegar ao Areeiro...

Folheou-a uma vez mais detrás p'rá frente e de frente p’ra trás, e lá se decidiu a assinar, embora, manifestamente, o que ele queria era ter ficado com o livro... Eu penso que ele desconhecia a edição e queria ficar com ela para a sua colecção... Ou então, confirmar se lhe teriam pago os direitos de autor...! Durante uns tempos ainda fiquei com remorsos por não lhe ter oferecido o livro mas, agora, já passou...

O livro está comigo e se assim não fosse andaria agora perdido nos arquivos da “Casa das Américas”, de que Guillén era o Director...

E antes de me ir (porque vem a propósito...) deixo-vos esta pequena
maravilha de Sophia de Mello Breyner Andresen, que faz parte do "Livro Sexto":

"Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar"


Colaboração de Luís Miguel Mira

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