sexta-feira, 5 de março de 2010

NOMOFOBIA

A propósito de outras histórias, o Bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, num artigo de opinião publicado no “Jornal de Notícias”, disse que não falar ao telefone é hoje um gesto tão prudente como o era no tempo da ditadura.

Num outro olhar, o realizador de cinema Fernando Lopes, numa entrevista, disse que “com esta mania de falarem aos telemóveis em voz alta, não imagina as conversas que já ouvi, coisas absolutamente extraordinárias.”

Sou do tempo em que era possível encontrar nos transportes públicos pessoas a lerem um livro ou um jornal. O mesmo à mesa de um café. Quando íamos ao cinema saíamos a falar do filme, agora nem os créditos vêem, para correrem a saber se têm mensagens ou telefonar à Bá, para saber se está tudo bem.

Um dia o Jorge Listopad contou a seguinte história:

“À mesa de uma esplanada vejo chegar um casal, jovem ainda Sentam-se encomendam as bebidas, e logo, ao mesmo tempo, como que em simultâneo, puxam dos seus respectivos telemóveis e põem-se a conversar. Cada um para seu lado, animadamente.”

Não tenho qualquer dúvida, da importância de um telemóvel nas suas múltiplas funções, urgências várias, coisas rápidas e incisivas, género, “podes vir. Mamã, enfim morta.”

Mas teremos que reconhecer que o telemóvel é, também, um dos maiores horrores dos dias que correm. Entrou-se na paranóia total, ao ponto de putos na escola terem telemóveis de última gama. Lembram-se daquele aluno que gravou a discussão entre uma professora e uma aluna?

Em qualquer quadro estatístico Portugal ocupa sempre os últimos lugares. Contudo, na quantidade de telemóveis, ocupamos os lugares cimeiros. E, com isso, sentimo-nos europeus.

Pelo “Diário de Notícias” fiquei a saber que já existe uma fobia associada ao uso de telemóveis. Para um número crescente de pessoas já é insuportável pensar que ficam sem rede, podem ficar sem o telemóvel.

A doença, o quase-drama, já tem nome: “Nomofobia”.

É mais grave do que imaginar se possa.

Por mim penso que me muita gente teria uma vida diferente se mandasse o telemóvel janela fora.

Não li, apenas me contaram, que na parede de uma igreja pode ler-se:

“Deus não lhe vai telefonar. Por favor desligue o telemóvel”
Não tenho telemóvel.

A família, os amigos dizem que sou uma aberração.

Gostava de voltar a escrever em ardósia...

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