terça-feira, 3 de agosto de 2010

A CADEIRA



Final de “Cadeira” de José Saramago em “Objecto Quase”:

“Já se ouvem passos no corredor, mas temos ainda tempo. A equimose tornou-se mais escura e o cabelo parece arripiado sobre ela. Uma passagem carinhosa de pente poderia compor tudo nesta superfície que vemos. Mas seria inútil. Sobre outra superfície, a do córtice, acumula-se o sangue derramado pelos vasos que a pancada seccionou naquele ponto preciso da queda. É o hematoma. É lá que neste momento se encontra o Anobium, preparado para o segundo turno. Buck Jones limpou o revólver e mete novas balas no tambor. Já aí vêm buscar o velho. Aquele raspar de unhas, aquele choro, é das hienas, não há ninguém que não saiba. Vamos até à janela. Que me diz a este mês de Setembro? Há muito tempo que não tínhamos um tempo assim.”

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