segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

ISTO ANDA TUDO LIGADO


Era o ano de 2004 ainda uma criança, quando Eduardo Guerra Carneiro foi encontrado sem vida na casa onde vivia, na Travessa do Abarracamento, ao Príncipe Real.

Baptista-Bastos diria que o poeta atirou-se para o céu.

Tinha 62 anos, era jornalista, cronista, poeta e, em tudo onde punha a mão, escorriam prosas de primeira água.

Passaram sete anos sobre esse começo de ano e ainda ninguém pegou nos papeis por editar que o Eduardo deixou. Esquecido enquanto viveu, esquecido na morte Sim, os Rodrigues dos Santos, as Margaridas Rebelos qualquer coisa, os Sousa Tavares são mais importantes, porque fazem tilintar as máquinas registadoras.

“Abro as janelas para o rio, meto o papel na máquina, acendo um cigarro e penso: “Que grande solidão!”

Muitas vezes perguntou a si mesmo:

“Qual a cor das luzes do futuro?”

Faz falta o Eduardo. Muita falta mesmo, ele que tinha dentro de si todos os sonhos do mundo.

Sobre o Eduardo Guerra Carneiro, lembro o Jorge Silva Melo numa crónica no “Público”: 
“gostava de falar de alheiras e de batatas às rodelas ali na Transmontana nas Escadinhas do Duque, o meu companheiro solitário que decidiu não viver mais”.

 “A dor é isto: um vazio. E sentir
depois um vazio maior – esperar
a morte. Escrevo, assim, convicto,
num estado semelhante ao pó,
mas em lava ardente procuro
a maneira ainda de incendiar.

A morte é isto? Um vazio? Mas
escrevo para contar aos outros
deste sentimento estranho. Ao espelho
vejo ressentimento, usura, uso
e abuso do tempo que me deram.
E ardo na paixão gelada, sem morrer.

Espero por ti, seguro que já sei
nada mais de ti esperar.”

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