quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

PRESIDENCIAIS 2011


PALAVRAS ANTIGAS

“Tiveram de vender seus barcos. Perderam o mar. Perderam o seu trabalho. Andam por aí de olhos longe e de mãos atrás das costas. Como se tivessem dado à costa. Mas votaram Cavaco.
Pronto. Está certo. O voto é livre. A televisão até diz que ele é bom, que governa bem…
Para que estou eu a ralar-me?
Eles é que sabem, assim de mãos atrás das costas, deambulando de olhos perdidos pelas ruas estreitas e antigas da vila, quem governa bem ou mal.
Queixam-se os comerciantes sofridos das falências, das dívidas, dos impostos. Mas votaram em Cavaco. Óptimo. Par que hei-de eu ralar-me? Eles lá sabem, ora essa. O voto é livre. A televisão até diz que ele governa bem.
Os lavradores foram expulsos das suas terras. A pouco e pouco as mãos vão perdendo o jeito de semear. E quando trabalham, os produtos não se vendem, na competição com os estrangeiros. Mas votaram em cavaco. Portanto isso quer dizer que, segundo eles, Cavaco governa bem. E se eles pensam assim, vou ser eu a ralar-me?
As donas de casa esticam um fio que se parte muito antes do meio do mês. Nos hospitais é a degradação máxima. Perdem horas e horas nos transportes. Mas votaram em Cavaco. À vontade citoyens! O voto é livre.
Uma tristeza, Chato, chato, é que os que deram a vida para que a vida não fosse assim. E os que vão continuara a dá-la para que as coisas deixem de ser assim.”

Mário Castrim, Abril de 1994

“Resumindo e concluindo, se a direita der outra vez a maioria absoluta a Cavaco Silva, será a primeira vítima dele, suportará o doutor Cavaco para além do milénio e renunciará à política, a menos que se inscreva nessa nova União Nacional. Quem quiser o país assim, vote nele. Depois não se queixe.”

Paulo Portas, “O Independente”, 19 de Setembro de 1991

“Lembram-se de 20 de Fevereiro do ano passado? Foi o dia das eleições legislativas. Estava algum frio. Havia imenso nervosismo no ar. O PSD oficial (o de Santana Lopes) choramingava com as dores do menino guerreiro. O resto do país social-democrata festejava José Sócrates, o mais social-democrata dos socialistas.
Sócrates era o visível vencedor da noite. O outro, o invisível, aquele que comemorou a vitória no recato do lar e não teve direito a discurso directo, chamava-se Aníbal Cavaco Silva.”

Ana Sá Lopes, “Público”, 28 de Janeiro de 2006.

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