sábado, 29 de janeiro de 2011

PAÍS DE ABRIL


Foi o poeta que iluminou as nossas trevas, que deu palavras à música e voz de Adriano Correia de Oliveira. Por isso tem um lugar na nossa estória.

Chegou do exílio, em Argel, bateu à porta do PS que lhas escancarou. Com ele vinha outro exilado, Fernando Piteira Santos, a quem um dia perguntaram porque se não tinha filiado no Partido Socialista e aquele que perguntou, ouviu a resposta: “Porque sou socialista”.

A cineasta Teresa Vilaverde disse ter dificuldade em compreender o desejo de alguém querer ser Presidente da República.

 Manuel Alegre deveria ter tido a lucidez, suficiente para não se submeter ao enxovalho de andar à compita com Cavaco. Tão pouco merecia que Mário Soares, o pai da Democracia, como ele gosta de se intitular, lhe lançasse às canelas, como mesquinha vingança, a candidatura de Fernando Nobre.

O país de poetas, que gostamos de dizer que somos, para Presidente da República, entre um poeta e um economista, escolheu o homem dos números. 

Já Brecht dizia que quem tem ideias se torna um homem perigoso e as gentes, velhos hábitos, têm sempre medo das ideias

Alegre deverá estar mais que arrependido por não ter sabido resistir à vaidade de querer ser presidente. Mas é sempre tarde quando se chora. 

Por mim, nesta tarde cinzenta e fria, volto, como tantas vezes o faço, à “Praça da Canção”, mesmo sabendo que o poeta desse livro, já nada tem a ver com o homem que, após a chegada do exílio, em Argel, se tornou num funcionário partidário:

“São tristes as cidades sob a chuva
E as canções que se atiram contra as grades
- a minha pátria vestida de viúva
entre as grades e a chuva das cidades.

É triste o cão que ladra no canil
Quando é março ou abril e lhe prendem as pernas
É triste a primavera no País de Abril
- minha pátria perfil de mágoas e tabernas.

É triste: uns vestem-se de abril outros de trapos.
Tu ó estrangeiro é só por fora que nos olhas
- a minha pátria bordada de farrapos
capa de trapos remendada a verdes folhas.

Abril tão triste no País de Abril. Por fora
é tudo verde. (Abril com máscaras de festa).
Por dentro – minha pátria a rir como quem chora.
(A festa da tristeza é tudo quanto lhe resta).

Abril tão triste no País de Abril. Aqui
A noite aqui a dor meninos velhos
- minha pátria a chorar como quem ri
em surdina em silêncio. E de joelhos.”

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