O Verão Quente de 1975 entra por Setembro.
Lê-se no “Expresso”:
“Se se pudesse condensar a actual situação político-militar portuguesa num qualificativo seco e expressivo já não nos ocorreria o de “surrealista”, mas o “dadaísta”.
Em 2 de Setembro a Assembleia de Delegados do Exército em Tancos, presidida por Carlos Fabião, constitui um encontro preparatório da Assembleia do MFA de 5 de Setembro. São tomadas as seguintes decisões:
- Não aceitar Vasco Gonçalves para CEMGFA (contrariamente à decisão tomada nesse sentido pelo Presidente da República e CEMGFA, Costa Gomes.)
- Propor a não comparência de Delegados do Exército na Assembleia do MFA de 5 de Setembro em Tancos.
- Propor a reestruturação da Assembleia do MFA (de acordo com os quantitativos dos três ramos das Forças Armadas e sobretudo a sua implantação no terreno. Com tal medida pretende-se contrariar a «histórica e perniciosa tendência de se entender a política pela macrocefalia de Lisboa». Apresenta-se como exemplo o facto de a RML ser favorecida nos esquemas até agora vigentes em relação às outras Regiões Militares do país, já que dispõe, na actual Assembleia de Delegados do Exército, de cerca de 50% dos lugares.
– Propor a subordinação da Força Aérea ao Exército.
No dia 5 de Setembro Nova Assembleia (Extraordinária) do Exército presidida por Carlos Fabião. Teve em vista a discussão da participação do Exército na Assembleia Extraordinária do MFA. Decidiu-se pela negativa. Intervenção de Vasco Gonçalves (que apresenta um documento de crítica ao Documento dos Nove) e de Vasco Lourenço e Melo Antunes em oposição acesa ao primeiro. Vasco Gonçalves anuncia que abdica da sua nomeação para CEMGFA.
Assembleia do MFA em Tancos. Apenas presentes como participantes, os Delegados da Armada, uma vez que os Delegados do Exército e Força Aérea decidiram participar tão só a título de observadores. Ratifica as decisões da Assembleia do Exército desse mesmo dia e altera quase totalmente o CR que, com mais poder do que nunca, fica encarregado de estudar a própria remodelação da Assembleia do MFA. Saem do CR Vasco Gonçalves e a maioria dos conselheiros que lhe são afectos. No total, os gonçalvistas perdem nove conselheiros contra um do Grupo dos Nove. O Conselho da Revolução fica constituído apenas por dezanove conselheiros.
No dia 6 de Setembro, num pinhal entre Braga e Porto surgem formalmente os SUV Soldados Unidos Vencerão) (SUV).
No dia 10 de Setembro mais de 1000 espingardas automáticas G-3 são desviadas do aquartelamento de Beirolas.
O desvio é reivindicado pelo Capitão Fernandes, oficial de segurança do COPCON.
Em Abril de 1976, o Capitão Fernandes publica o livro “Portugal Nem Tudo Está Perdido”.
Numa nota biográfica constante do livro, o episódio é contado deste modo:
“Foi encarregado por Otelo de distribuir por diversas unidades de Lisboa parte do armamento recém-vindo das colónias e armazenado no Depósito de Material de Guerra de Beirolas. Durante a operação o Cap. Fernandes desviou para s mãos de operários e camponeses – segundo reivindicou – 1.500 armas. Entrou poucos dias depois na clandestinidade e dado como desertor.”
No regresso de uma visita de uma delegação do M.F.A. à Suécia, Otelo Saraiva de Carvalho dirá aos jornalistas presentes no aeroporto:
“As armas roubadas estão em boas mãos.”
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