segunda-feira, 1 de julho de 2013

30º FESTIVAL DE TEATRO DE ALMADA


ESCOLHER CERTO


Em 1978 Joaquim Benite, com o seu Grupo de Campolide, sai do Teatro da Trindade e instala-se numa colectividade  almadense. Abandona uma das mais belas salas do País e vem para o meio dos operários. Estreia um autor comunista desconhecido, José Saramago. Cria uma mostra de teatro amador, que se  transforma num dos mais importantes festivais da Europa—trinta edições depois, verificamos que escolheu certo.

Apostando na diversidade estética, pautada pela excelência artística, o Festival de Almada tem sido um local de encontro – de encontro entre artistas, mas sobretudo de encontro entre artistas e o público. Como tal, numa recente época de relativa abundância, durante a qual pulularam luminárias fátuas e vazias de sentido, nessa época em que a Cultura foi também um negócio, o Festival apostou no fortalecimento de laços
com os teatros seus parceiros(aqueles geridos por artistas) — e com a sua Cidade.

Nesta 30.ª edição apresentamos de novo os grandes criadores e intérpretes do teatro europeu; regressa a mais importante Companhia portuguesa independente, a Cornucópia; há duas óperas, um concerto sinfónico, seis estreias e um ciclo de teatro nórdico — e, não por acaso, há também espectáculos de cada um dos PIIGS. Sabíamos o que aí vinha: o desinvestimento na Cultura não começou com este Governo, não
se trata desta ou daquela cor política, deste ou daquele governante – é outra coisa. Sabíamos que a ideologia liberal não encara o livre acesso dos cidadãos à Cultura como um direito, embora ele esteja consagrado na Constituição. Sabemos que a uma classe dirigente inculta e mal preparada não lhe convém uma população bem formada e com poder reivindicativo. Aos jovens formados pelo Estado, em cuja educação o mesmo Estado tanto investiu numpassado recente, é-lhes agora sugerido que emigrem. E, como
Prevíamos o que aí vinha, reunimo-nos àqueles que pensam como nós e preparámo-nos para resistir, apresentando uma das melhores programações dos últimos anos.

Em 2013 a subvenção estatal diminuiu ainda mais – mas apresentamos mais dez espectáculos do que no ano passado, com a garantia de qualidade, por exemplo, do Odeón – Théâtre de l’Europe, ou do Théâtre de la Ville. Acreditamos, porque no-lo ensinaram, que um público mais informado e mais exigente reivindicará num futuro próximo aquilo que lhe é devido.

Podíamos ter ficado a chorar sobre o leite derramado—mas a gente não escolhe assim
.
Rodrigo Francisco
Director Artístico


 (Detalhes e programação em 30ªFestival de Almada).

Sem comentários: