Crónicas: Imagens Proféticas e Outras
3º Volume
João Bénard da
Costa
Edição: Lúcia
Guedes Vaz
Sistema Solar,
CRL (Documenta), Lisboa, Outubro de 2014
Cada encontro é um reencontro. Não sei de outra
explicação plausível para os encontros que, ao longo da vida, cada um de nós
teve, tem ou terá. «Se não me conhecesses, não me procuravas». É verdade que
muitos procuram sem achar. Mas nunca ninguém achou sem procurara, mesmo que não
soubesse o que procurava ou quem procurava. Todos nascemos com um conhecimento
que esquecemos nos anos ditos de aprendizagem. O que a vida nos vai dando, nos
chamados encontros, é a memória desse esquecimento. Memória que reconhecemos
como tal, esquecimento que não recordamos como tal, porque um dos caminhos do
acesso nos está vedado, ou nós o vedámos. Mas é a memória que permite o
encontro, que, sem ela, nunca se daria. Julgamos achar de novo, mas só achamos
o que encontrámos. Quantas vezes nos dizemos: «isto não pode estar a
acontecer». Mas o que não pode estar a acontecer é o que acontece, e só
acontece porque já aconteceu. Sob outras formas, noutros mundos ou noutras
idades? É bem possível, é mesmo a única possibilidade, só que o possível e o
impossível ultrapassam as categorias de tempo e espaço a que nos referimos. Sem
o sabermos vemos o mesmo filme, com o fim no lugar e o princípio no lugar do
fim. Não há solução mais falsa do que a da continuidade. Mas, se não houvesse
continuidade, não havia solução.
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