sexta-feira, 14 de agosto de 2015

OLHAR AS CAPAS

Capitães da Areia

Jorge Amado
Publicações Europa-América, Lisboa, Maio de 1970


De punhos levantados, as crianças saúdam Pedro Bala, que parte para mudar o destino de outras crianças. Baradão grita na frente de todos, ele agora é o novo chefe.
De longe, Pedro Bala ainda vê os Capitães da Areia. Sob a Lua, num velho trapiche abandonado, eles levantam os braços. Estão em pé, o destino mudou.
Na noite misteriosa das macumbas, os ataques ressoam como clarins de guerra.
Anos depois os jornais de classe, pequenos jornais, dos quais vários não tinham existência legal e se imprimiam em tipografias clandestinas, jornais que circulavam nas fábricas, passados de mão em mão, e que eram lidos à luz de fifós, publicavam sempre notícias sobre um militante proletário, o camarada Pedro Bala, que estava perseguido pela polícia de cinco estados como organizador de greves, como dirigente de partidos ilegais, como perigoso inimigo da ordem estabelecida.
Nos anos em que todas as bocas foram impedidas de falar, no ano que foi todo ele uma noite de terror, esses jornais (únicas bocas que ainda falavam) clamavam pela liberdade de Pedro Bala, líder da sua classe que se encontrava preso numa colónia.
E no dia em que ele fugiu, em inúmeros lares, na hora pobre do jantar, rostos se iluminaram ao saber da notícia. E apesar de que lá fora era o terror, qualquer daqueles lares era um lar que se abriria para Pedro Bala, fugitivo da polícia. Porque a revolução é uma pátria e uma família.

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