sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O QU'É VAI NO PIOLHO?


CINEMA RIVOLI

Por dez tostões subíamos à galeria.
Do alto víamos as divas, aprendíamos
a beijar - mal, é evidente: o código
Heyes lá estava para nos impedir
de estremecer a fundo -. A Garbo punha
nas nossas namoradas olhares lânguidos.
As divas eram todas grandes damas,
nunca se despiam sob o olho guloso e,
mesmo na banheira,
apareciam sob uma espessa cortina
de espuma: a inveja dos que em casa
se lavavam com sabão azul. E havia
(coisa fina!) os que se masturbavam
com o olho nas pernas da Marlene. Lia-se
“O Cinéfilo”, a vida íntima das estrelas
ganhavam-se ideias para os bilhetinhos
que se passavam para as mãos das miúdas.
As aulas começavam à segunda-feira
com a briga dos adeptos
(ou já seriam fãs?) das duas “rivais”.
Depois a professora entrava, encavalitava
os óculos de aro metálico e dizia: Meninos,
hoje vamos dar... Ainda estávamos longe
da época Ava Gardner, da mítica Marilyn,
das pernas marlénicas da Cyd Charisse...
Longe das audácias dos anos noventa: mamas e
rabos, fuck explícito, palavrões a granel.
Cada geração inventa o seu reco-reco...

Egito Gonçalves

Legenda: fotografia tirada de Cinemas do Paraíso

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