terça-feira, 1 de maio de 2018

O PRIMEIRO 1º DE MAIO EM LIBERDADE


Frei Bento Domingues em entrevista ao Diário de Notícias:

«Não me recordo bem porque foi um baralhanço total. O que aconteceu para mim de surpreendente foi o 1.º de Maio, foi uma experiência má. Pensava: isto é um país de revolucionários, de repente! Um dos meus ofícios era ajudar pessoas a sair do país, e era uma trabalheira porque eram raros os que se comprometiam. De repente estava tudo na rua. Aqui há batota, pensei.»

Maria Eugénia Varela Gomes em Contra Ventos e Marés:

«Quer dizer: no 1º de Maio juntou-se tudo: os que tinham perdido o medo, os que eram fascistas e queriam desaparecer ou disfarçar... veio tudo para a rua e as motivações eram, evidentemente, as mais diversas. Uma coisa era certa, se aquela multidão de gente fosse mesmo antifascista, todos eles, o regime já tinha caído há muito tempo.»

Sacuntala de Miranda no seu livro Memórias de Um Peão nos Combates pela Liberdade:

«Num estado enorme de exaltação, participei na grandiosa marcha do 1º de Maio, procurando em vão ver caras conhecidas e perguntei-me mil vezes como era possível que tanta gente viesse para a rua vitoriar o fim do regime, quando éramos tão poucos os que tinham lutado contra ditadura.»

Éramos tão poucos…

E como revelam estes velhos recortes, pegados ao acaso, era assim que lutávamos, poucos mas bons, dizia o Helder.

E corríamos à frente da polícia, levávamos porrada, pontapés e cacetadas, mangueiradas de tinta azul, uns presos, estudos interrompidis, profissões perdidas ou prejudicadas, alguns, lembrando Jorge de Sena, não chegaram a ver a cor da liberdade.

Em todos os primeiros de Maio da ditadura. José Gomes Ferreira saía à rua com uma gravata vermelha, percorria as ruas da cidade gritando em silêncio, sabedor-sonhador que um dia, esse grito seria mesmo um ENORME GRITO. 



Época, 1 de Maio de 1973



Diário Popular, 2 de Maio de 1973

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