terça-feira, 11 de maio de 2021

NOTÍCIAS DO CIRCO


Desde Agosto de 1954 que sou sócio do Sport Lisboa e Benfica.

Em todos estes largos anos, assisti a tudo e de tudo: coisas lindas de morrer, coisas péssimas que me deixaram no limiar do vómito.

Ontem, o país assistiu a um espectáculo lamentável.

Durante perto de três horas, as televisões transmitiram, em directo, a prestação do cidadão Luís Filipe Vieira, como um dos maiores devedores individuais do Banco Novo ou lá do que quer que seja, na Comissão de Inquérito da Assembleia da República.

Era nessa condição que se encontrava naquela Comissão.

Não tinha que fazer qualquer declaração em que entrasse o nome do Sport Lisboa e Benfica. Só tinha que dizer quando e como pagará os milhões de euros que deve à Banca.

Os deputados da Comissão, possivelmente alguns serão benfiquistas, portaram-se bem. A excepção veio do deputado da Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo, que não resistiu a um golpe baixo:

«Vou fazer a segunda pergunta que os portugueses mais querem ouvir. A primeira seria como é que o Benfica gasta 100 milhões e fica em terceiro?»

O benfiquista Cotrim de Figueiredo, como milhares de benfiquistas espalhados por aqui e por ali, estará terrivelmente chateado com a prestação futebolística do clube,  mas, ali e naquela hora, não poderia entrar pela baixa provocação…

Porque naquele lugar não estava sentado o presidente do Sport Lisboa e Benfica, mas sim o cidadão Luís Filipe Vieira.

Este cidadão declarou que não foge e que pagará tudo.

Os responsáveis do banco já dispuseram as cadeiras para esperarem sentados.

 Por mero acidente de percurso, o benfiquista Cotrim de Figueiredo estava na mesma fila para a votação da  presidência do clube, que eu. 

Posso dizer que não votei na continuação de Vieira, não sei se o voto de Cotrim seguiu o mesmo caminho.

Tempo para lembrar que nessas eleições, os associados do Sport Lisboa e Benfica tiveram a oportunidade de mudarem o rumo presidencial do clube. 

Alguns não pensaram assim, certamente estarão arrependidos, assim também aconteceu a muitos brasileiros que votaram Bolsonaro, a muitos norte-americanos que votaram Trump. 

É sempre tarde quando se chora.

Ficou muito clarinho que o presidente Luís Filipe Vieira tratou o clube com os pés e, em todos estes anos de péssima gestão, esteve mais preocupado com os negócios imobiliários na Matinha, em Moçambique, no Brasil, em Espanha do que com o clube.

Rosto do movimento «Servir o Benfica», Francisco Benitez veio a público pegar uma das frases ditas por Luís Filipe Vieira na Comissão de Inquérito Parlamentar às perdas do Novo Banco.

«Com esta afirmação fica claro que Luís Filipe Vieira» não é Benfiquista, nem foi para o Benfica para o salvar. Finalmente assumiu que foi para o Benfica salvar o dinheiro dos Bancos e se por acaso estes lhe tivessem pedido para ir para qualquer outro dos nossos rivais, ele teria ido sem qualquer problema. Assunto encerrado».

2 comentários:

Luis Eme disse...

Apesar de tudo, Sammy, achei que foi uma das intervenções mais esclarecedoras na relação do BES com os empresários.

Ele nem sequer se escudou a comentar a venda vergonhosa do banco ao fundo "Lone Star" (disse que quem fez o negócio devia ser enforcado...).

No fundo foi sempre esta a postura do capitalismo português, sempre actuou protegido, ora pelo Estado (antes e depois de Abril) ora pela Banca. Sempre pôde investir à vontade com o dinheiro dos outros...

Sammy, o paquete disse...


Cheguei a um tempo em que, o tempo que me falta, terá de ser ocupado em coisas que valham a pena. O futebol de um gosto, de um espectáculo, virou uma trivialidade, uma pequenez em que campeia gente que não se lava todos os dias.
Olho em volta, sei de polícias que assassinaram Ihor Homeniuk, sei que na Alemanha, na Grã-Bretanha, quando comem os frutos vermelhos idos do Alentejo, isso é resultado de trabalho escravo, do mesmo modo que nós, comemos abacaxis, tabletes de chocolate, isso é resultado de trabalho escravo.
Dei hoje com uma frase do Manuel António Pina:
«Porque houve um tempo em que tivemos esperança. E, provavelmente, fé. Um tempo em que acreditámos em coisas maiores, em palavras e ideias por que valia a pena morrer. Também, no entanto, as nossas palavras, mesmo as mais desmesuradas, sucumbiram à trivialidade e à pequenez. E hoje olhamos em volta e vemos muitos dos que connosco partilharam a confiança e a esperança entre as piores dos porcos, dos feios e dos maus.»
O que o Vieira disse sobre a venda do banco aos abutres, não é areia da camioneta dele. Foi-lhe recitado por quem sempre o apoiou, por quem espatifou um banco de que iremos pagar tudo e mais alguma coisa, por quem continua a bronzear-se nas praias da Comporta. Vieira, juntamente com outra gentalha, apenas foi o rapaz dos recados, das entregas.
Um destes dias, terei que dizer ao José Gomes Ferreira que é muito difícil ter saudades do futuro.