sexta-feira, 14 de maio de 2021

UMA ENORME CUMPLICIDADE


12 de Setembro de 1991

Pensava-o imortal, não sei porquê. Talvez porque nunca o vi envelhecer. Entrou em minha casa há vinte anos – uma casa vagamente «minha», onde morei apenas alguns meses ali para os lados da avenida de Roma. Uma casa que nem me chegou a ser casa, a não ser por duas ou três coisas muito nítidas que nela me aconteceram. Uma delas foi o António Reis. Ele vinha do Porto, não sei se naquele dia ou no meu imaginário, e era alguém que tinha escrito uns poemas de uma extrema sensibilidade, rasantes ao solo, de uma sensibilidade minimalista, a que chamar por isso mesmo Poemas Quotidianos. O meu mérito estava em ter gostado daqueles versos; o erro seria complicá-los demasiado. Desde esse dia que me ligou ao António Reis uma enorme cumplicidade. E isso transbordou para o cinema. Para o Jaime, primeiro. E depois para o Trás-os-Montes.

Eduardo Prado Coelho em Tudo O Que Não Escrevi, Volume I

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