quinta-feira, 8 de setembro de 2022

SONETO

Não será sempre assim… Quando não for,

Quando teus lábios forem de outro; quando

No rosto de outro o teu suspiro brando

Soprar; quando em silêncio, ou no maior

 

Delírio de palavras desvairando,

Ao teu peito estreitares com fervor;

Quando, um dia, em frieza e desamor

Tua afeição por mim se for trocando:

 

Se tal acontecer, fala-me. Irei

Procurá-lo, dizer-lhe num sorriso:

«Goza a ventura que já gozei.»

 

Depois, desviando os olhos, de improviso,

Longe, ah tão longe, um pássaro ouvirei

Cantar no meu perdido paraíso.

 

E. E. Cummings

(Tradução de Manuel Bandeira)

Sem comentários: