sábado, 4 de dezembro de 2010

A FAVA


espero que me calhe aquela fava
que é costume meter no bolo-rei:
quer dizer que o comi, que o partilhei
no natal com quem mais o partilhava

numa ordem das coisas cuja lei
de afectos e memória em nós se grava
nalgum lugar da alma e que destrava
tanta coisa sumida que, bem sei,

pela sua presença cristaliza
saudade e alegria em sons e brilhos,
sabores, cores, luzes, estribilhos...
e até por quem nos falta então se irisa

na mais pobre semente a intensa dança
de tempo adulto e tempo de criança.

Vasco Graça Moura

Poema retirado de “Natal… Natais”, antologia de Oito Séculos de Poesia Sobre o Natal, organizada por Vasco Graça Moura, “Público”, Lisboa s/d

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