sexta-feira, 9 de agosto de 2013

OLHAR AS CAPAS


O Mistério da Légua da Póvoa

Agustina Bessa-Luís
Capa: Vasco Rosa
O Independente, Lisboa Novembro de 2004

Eu aprendi a ler nos folhetins. Antes de dar entrada na paróquia do ensino primário, já eu conhecia os segredos do Vaticano e os seus tumultos chefiados por César Bórgia. Sem Falar da corte da rainha Margot e as desventuras do Máscara de Ferro. O folhetim foi o meu mundo pós-familiar em que todos os conflitos da personalidade são postos à prova. Conhecemos a inveja, a cobardia e o amor como se fossem azares e não razões. Eu creio que a presença do espírito perante a vida vem desse encontro com as peripécias que não nos atingem, só nos alimentam a imaginação. Aprendemos a não desiludir porque não aspiramos ser protagonistas de nada deste mundo. Bastamo-nos com ser parceiros na história que, por ser fingida, nos dá a garantia de ser inofensiva. Passa-se com os outros, e portanto temos a liberdade melhor de todas que é a de acreditar que estamos a salvo de tudo o que sucedeu e sucederá.

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