segunda-feira, 30 de novembro de 2015

MORREU O ASSIS COMO É DO CONHECIMENTO PÚBLICO, COMO JÁ TINHA MORRIDO O ESTEVES DA LEITARIA, O O' NEILL DA SEDA CHINESA EM FEIRA DE CIGANO


Borrifava-se nas editoras e publicava livros, pagos do seu bolso, que oferecia aos amigos

Conheci-o no Diário de Lisboa e voltámos a encontrar-nos no República.

Como disse Joaquim Manuel Magalhães, poeta e crítico literário:

O Fernando Assis Pacheco de que eu gosto tem a obra publicada bem longe dos empórios editoriais cuja distância do poder económico é um acto cultural defender (Centelha, Inova); ou então entregues a esse prazer da auto-publicação lateral, através de opúsculos passados a stencil e quase que difundidos de mão em mão; ou mesmo em ignorados jornais de província.

No República e no semanário O Jornal alimentou secções de recensão de livros, nada de crítica, apenas divulgar o que ia saindo das editoras, lembretes.

Se este seleccionista tivesse o sangue-frio e a quietude táctica de um lagarto dos muros, levava bem melhor a sua cruz semanal ao calvário do fotocomposição: Mas ele é um bicho de entusiasmos: fala alto, escreve a traço grosso, chateia meio mundo quando descobre, fresco ainda dos preços, «o livro». Eis, de seguida, alguns exemplos do ano que vai terminar, com o pedido expresso de que não veja neles o rigor da ordem.

No República chamou-lhe PRONTUÁRIO DAS LETRAS:


Em O Jornal chamou-lhe BOOKCIONÁRIO:


Escreveu livros.

Prontuou e bookcionou os livros de outros.

A morte só lhe poderia marcar encontro numa livraria.

Foi há 20 anos, num findar de Novembro, tal como escreveu Vasco Graça Moura deixou em poema:

com Novembro a findar morreu fernando
assis Pacheco numa livraria,
entrava nela sempre que podia
a ver as novidades e foi quando
de ensaios ou romance ou poesia
alguns volumes ia folheando
que o coração então lhe vacilando
lhe emudeceu a escrita nesse dia


Ou ainda Manuel Alegre:

Não sei se alguma vez nós voltaremos
da guerra onde deixámos partes d’alma.
As minas ainda estão a rebentar
trazemo-las por dentro e ninguém pode
desarmá-las.
A última foi a de Fernando Assis Pacheco
não em Zala ou Balacende nem Quilolo
mas numa pacata livraria de Lisboa
às onze da manhã
essa hora fatídica da emboscada.

Não me venham dizer que foi enfarte
ou acidente cardiovascular. Eu sei
que foi a mina

armadilhada no coração.

Nota do Editor: 
O título é tirado de uma prosa que o jornalista Rogério Rodrigues escreveu na morte do Fernando Assis Pacheco morreu,

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